SOFTWARES – Vilões ou mocinhos???
No ano de 1991, em um artigo técnico denominado “Divagações de um Engenheiro Veterano”, publicado pelo Engº Sigmundo Golombek no SEFE II (Seminário de Engenharia de Fundações Especiais), já antevendo o que provavelmente se tornaria praxe no futuro, observa-se o seguinte registro:
“...o grande desenvolvimento da informática, com uso cada vez maior dos computadores, parece que tirou de nossos engenheiros a capacidade de raciocínio. ”
Posteriormente, os anos foram se passando e alguns outros renomados profissionais especializados em Engenharia de Fundações, também publicaram artigos técnicos em diversos Seminários de Engenharia de Fundações Especiais, com registros igualmente célebres e, de certa maneira preocupantes. Vejamos:
“...um aspecto que diferencia um projeto de estruturas de um projeto de fundações é que, no primeiro, as características dos materiais de construção são definidas pelo projetista e, no segundo, trabalha-se com o solo, que é um material não fabricado pelo homem. ”
Autor: Urbano Rodriguez Alonso
Fonte: SEFE V (novembro / 2004)
“Tradicionalmente, pensa-se que o estabelecimento de um fator de segurança elevado afasta a obra da condição de ruína. Mas seria a engenharia uma ciência exata, determinística, a ponto de se poder evitar a condição de ruína através de um simples fator de segurança, ou como ocorre na medicina, seria uma profissão sabidamente sujeita à aleatoriedade de fatores independentes e fora do seu controle? O profissional de engenharia civil experiente sabe que fator de segurança maior que um nada significa, e não garante que a obra não venha a ruir. ”
Autor: Nelson Aoki Fonte: SEFE VI (novembro / 2008)
“A solução de Engenharia que não tem por fundamento a experiência, chama-se temeridade e as façanhas dos temerários devem ser atribuídas mais à sorte do que ao conhecimento. ”
Autor: Milton Golombek
Fonte: SEFE VI (novembro / 2008)
“Da mesma forma que comprar uma máquina fotográfica de última geração não transforma ninguém em fotógrafo, a compra de softwares de Engenharia também não transforma o comprador em um bom Engenheiro, em um Projetista ou em um Consultor. Não existe nenhum equipamento que defina as propriedades dos solos para as condições exatas e abrangentes que existem durante a execução das fundações, e nem seu comportamento futuro. ”
Autor: Milton Golombek
Fonte: SEFE VI (novembro / 2008)
Atualmente, a título de referência, há de se citar o parágrafo 3º do Item 1 (página 1) da ABNT NBR 6122/2.019 (Projeto e Execução de Fundações), que registra o seguinte:
“NOTA: Reconhecendo que a engenharia geotécnica não é uma ciência exata e que riscos são inerentes a toda e qualquer atividade que envolva fenômenos ou materiais da natureza, os critérios e procedimentos constantes desta Norma procuram traduzir o equilíbrio entre condicionantes técnicos, econômicos e de segurança usualmente aceitos pela sociedade na data de sua publicação. Nos projetos civis que envolvem mecânica dos solos e mecânica das rochas, o profissional habilitado com notória competência é o profissional capacitado a dar tratamento numérico ao equilíbrio mencionado. ”
Sob tal enfoque, há de se registrar que atualmente existem diversos Softwares e Programas Computacionais desenvolvidos para modelar (ATÉ DETERMINADO PONTO) praticamente qualquer tipo de situação técnica de engenharia que envolva análises numéricas mais elaboradas e aprofundadas, o que, em tese, certamente confere muito mais velocidade e refinamento ao resultado final. Ocorre, no entanto, que absolutamente todos esses Softwares e Programas Computacionais, na sua concepção, devem ser considerados como meras ferramentas de auxílio aos profissionais que deles se utilizam, o que, em grande parte das vezes, não ocorre.
Como cita a nota normativa acima, “nos projetos civis que envolvem mecânica dos solos e mecânica das rochas, o profissional habilitado com notória competência é o profissional capacitado a dar tratamento numérico ao equilíbrio mencionado”, ou seja, em fundações, a expertise do profissional que projeta e acompanha deve sempre sobrepor-se aos resultados obtidos pelos Softwares, por mais avançados e atualizados que estes últimos possam ser.
No Item 8 da ABNT NBR 6122/2019 (Projeto e Execução de Fundações), no subitem 8.1 (página 26), basicamente se encontra registrado o seguinte:
“O projeto de fundações consta de memorial de cálculo e dos respectivos desenhos executivos, com as informações técnicas necessárias para o perfeito entendimento e execução da obra. A elaboração do memorial de cálculo é obrigatória, devendo estar disponível quando solicitado. ”
Todo projeto de engenharia (particularmente os de fundações), deve apresentar basicamente como praxe, três condições CLARAMENTE REGISTRADAS PARA SUA PERFEITA INTERPRETAÇÃO, a saber:
- Especificações Técnicas e Parâmetros de Controle e Execução;
- Notas Gerais;
- Elementos de Referência.
Contrariamente ao que muitos profissionais pensam, como se pode observar, a apresentação de um memorial de cálculo e dos respectivos desenhos executivos (Projetos) com as informações técnicas necessárias para o perfeito entendimento e execução da obra, não é facultativa e sim obrigatória (conforme estabelece a Norma Técnica vigente no Brasil), devendo estar disponível quando e se solicitado pelo contratante.
Em síntese e resumidamente, de um modo geral, espera-se que os projetos de Engenharia Civil devam ser personalizados, únicos, viáveis e estritamente conformes às Normas Técnicas vigentes no país. Em geral, para a concretização de um determinado projeto sempre se faz necessário o concurso de alguns requisitos básicos, tais como a ideia, a viabilidade, quem o execute, a administração e os recursos. Em se tratando de um Projeto de Fundações, em especifico, há de se considerar que sempre haverá, em algum instante, o envolvimento de uma variável não “produzida” pelo homem e que, via de regra, apresenta preponderância na heterogeneidade em detrimento à homogeneidade. Sob tal aspecto, em Engenharia de Fundações, ABSOLUTAMENTE NADA deve sobrepor-se à expertise do profissional que projeta e acompanha tal atividade, pois quase sempre haverá mais dúvidas que certezas. Tal condição, DEVE SEMPRE sobrepor-se aos resultados obtidos pelos Softwares, por mais avançados e atualizados que estes últimos aparentemente possam ser.
NÃO FAÇA DO SEU SOFTWERE UM ARMA, POIS A VÍTIMA PODERÁ SER A SOCIEDADE.
PARA REFLEXÃO. FICA A DICA!!!